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Se tem uma tradição carioca que divide os moradores do Rio de Janeiro é a famosa “rixa” entre a Zona Sul e a Barra da Tijuca. Uma cidade tão diversa como o Rio abriga nos registros da história e da evolução social e imobiliária as diferenças que tornam cada região tão única.
A rivalidade entre a Barra da Tijuca e a Zona Sul do Rio de Janeiro se dá não apenas por aspectos geográficos e arquitetônicos, mas também por diferenças sociais e culturais.
Enquanto a Zona Sul é tradicionalmente vista como reduto da elite estabelecida e de famílias tradicionais, a Barra é frequentemente associada a uma classe média emergente. Por ser uma região com preços imobiliários mais acessíveis, a Barra atraiu muitos cariocas oriundos dos subúrbios, especialmente de áreas da Zona Oeste, como Campo Grande e Santa Cruz, além de municípios da Baixada Fluminense. Essa dinâmica de migração é menos comum na Zona Sul, onde os moradores tendem a permanecer na região ao longo das gerações.
Mas para entender essa rivalidade, vamos voltar no tempo e resgatar como cada região evoluiu ao longo das últimas décadas.
A Zona Sul é berço da aristocracia carioca e carrega um legado das tradições imperiais da cidade. É uma das regiões mais emblemáticas do Rio, conhecida por sua beleza natural e importância histórica.
Bairros como Botafogo, Catete, Flamengo e Glória têm suas raízes nos primeiros anos da urbanização do Rio de Janeiro. Nessa época, a nobreza buscava refúgio em mansões e palacetes distantes do conturbado Centro do Rio, onde a população aristocrática inicialmente se concentrava na Lapa.
O boom imobiliário de Copacabana, no início do século XX, marcou um ponto de virada para a Zona Sul. Assim, transformou-se a antiga vila de pescadores em um dos destinos mais cobiçados pela elite carioca e internacional. A verticalização do bairro no final da década de 1920 foi impulsionada pela construção do Copacabana Palace. Já os primeiros arranha-céus surgiram nas proximidades do hotel e da Praça da Lido, em estilo art déco.
Os grandes apartamentos foram projetados para lembrar palacetes. Assim, tinham varandas espaçosas, pé direito alto, plantas vantajosas, hall de entrada imponente e vistas deslumbrantes, atraindo as elites políticas, intelectuais e artísticas do país. Assim, o boom da construção civil foi rápido. Até meados da década de 1950, Copacabana já se apresentava praticamente consolidada.
A construção de prédios de apartamentos tornou-se a norma, e a paisagem urbana se transformou para acomodar a crescente população. Desta forma, o progresso urbanístico avançou rapidamente por Ipanema, Leblon, Gávea e Jardim Botânico. Até que, ao final da década de 1960, a Zona Sul se via com um solo urbano saturado do Rio de Janeiro.
Hoje, a Zona Sul é uma área que mescla tradição e modernidade. A falta de espaço para novos empreendimentos aumentou a exclusividade da região, reforçando sua reputação como área de prestígio e abrigando os metros quadrados mais valorizados do Rio de Janeiro.
Distante tanto geograficamente quanto culturalmente da Zona Sul, a Barra da Tijuca emergiu como um contraponto à tradição e ao conservadorismo daquela região. O bairro é conhecido por seus jardins, shoppings, prédios de apartamentos e mansões.
A história da Barra da Tijuca é relativamente recente em comparação com outras regiões da cidade, mas é marcada por um desenvolvimento rápido e significativo.
Projetada na década de 1970 pelo arquiteto Lúcio Costa, conhecido por seu trabalho em Brasília, a Barra da Tijuca foi concebida como uma utopia urbana. Seria como um refúgio para aqueles que buscavam uma vida mais tranquila e espaçosa, distante da agitação da Zona Sul do Rio. Seu plano previa uma divisão clara entre áreas residenciais, comerciais e de lazer, com ênfase na integração harmoniosa entre o ambiente construído e a natureza.
Assim, a Barra rapidamente se transformou em um dos bairros mais prósperos e dinâmicos da cidade. A construção da Autoestrada Lagoa-Barra, na década de 1970, abriu caminho para o desenvolvimento da região, atraindo investimentos imobiliários e empresariais. A inauguração do Barra Shopping, em 1981, foi um marco nesse processo.
Entretanto, a Barra, com seus condomínios fechados e espaços públicos escassos, é muitas vezes acusada de ser uma “cidade sem alma carioca”, com uma série de edifícios e shoppings centers sem identidade e arquitetura própria.
No século XXI, a Barra da Tijuca solidificou-se como um dos bairros mais prósperos e desejados do Rio de Janeiro. A região sediou diversos eventos importantes, incluindo a maioria das competições dos Jogos Olímpicos de 2016, o que trouxe mais infraestrutura e visibilidade internacional.
Mas, além disso, a Barra, sendo um bairro relativamente novo, carece de opções históricas e culturais em comparação com outras áreas da cidade.
Nos últimos anos, devido ao rápido desenvolvimento da economia, a população da Barra aumentou exponencialmente, à medida que muitos residentes e empresas buscam imóveis mais acessíveis como alternativa à densamente povoada Zona Sul do Rio. A região é considerada uma das mais desenvolvidas do Brasil, com um dos mais altos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do país.
Seja como for, a rivalidade entre Zona Sul e Barra reflete não apenas a diversidade do Rio de Janeiro, mas também as percepções e nuances que moldam a vida urbana carioca.
Por fim, a rixa entre as regiões coloca na mesa debates sobre tradição e modernidade, exclusividade e cultura, história e progresso. Essas diferenças, embora possam criar divisões, também enriquecem o mosaico cultural e social do Rio de Janeiro, refletindo a complexidade e a diversidade de uma das cidades mais fascinantes do Brasil e do mundo.
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